Douglas Menezes*
Não é
saudosismo, e talvez até seja. Não nego que uma das coisas que me deixa com
saudade no período da ditadura, claro, não o regime em si, era a transparência
de lado que existia na política. Mesmo abrigados na oposição consentida do MDB,
e da situação, expressa pela Aliança renovadora nacional (ARENA), os grupos de
direita, centro e esquerda delimitavam seu território. Sabíamos onde estávamos
pisando. Os políticos não escondiam suas posições, apesar dos riscos. Lembro,
ainda menino, criei verdadeiros ídolos, que nos faziam vibrar pelas atuações
combativas. Estavam lá povoando o sonho de mais liberdade na visão do ainda
adolescente, Marcos Freire, Jarbas Vasconcelos, Maurílio ferreira Lima,
Fernando Lyra, Cristina Tavares, Egídio Ferreira Lima, entre tantos outros.
A luta contra o regime de
exceção era uma verdadeira escola política, Como foi pedagógica para milhares
de jovens adquirirem consciência democrática. A juventude brasileira entendia
valer a pena correr riscos, e os anos de chumbo não eram brinquedo.
Crescemos nesse ambiente de
ebulição, aprendendo que liberdade se conquista na luta e, apesar dos exageros
próprios da idade, foi um período de aprendizagem que moldou o caráter, para o
bem, de muita gente. As pessoas aprendiam ter lado, a definir objetivos,
inclusive no aspecto cultural. Havia uma “guerra” na música. Definíamos nossa
preferência também pela posição dos artistas, pela postura contra ou a favor do
sistema. A MPB fervia, e grandes nomes confirmaram através dos anos o valor
artístico de suas obras. Estão aí, eternos, Vinicius, Chico, Tom, Geraldo
Azevedo, Alceu Valença, Vandré, Edu Lobo, e tantos que enriqueceram nossa
cultura, a partir da postura política, de buscar a democracia e a liberdade de
expressão pela arte.
Tempo diferente de hoje. Se as
conquistas democráticas se configuraram e vivemos num estado de direito quase
pleno, por outro lado, abdicamos, e isso é muito ruim, de uma nitidez política
necessária a qualquer democracia que se preze. Hoje, partidos que deveriam
apresentar uma linha mais definida, como o PT e PCDB, na busca das
transformações ainda muito necessárias ao país, Se apresentam como partidos que
trocaram um projeto Brasil, por uma continuidade de poder: temos ainda, uma
péssima distribuição de renda, uma Educação ruim, uma saúde capenga, que não
corresponde às reais necessidades do povo e uma segurança que deixa a desejar.
Sem falar da tentativa de controlar e cercear a livre expressão da imprensa.
Que aqueles anos não voltem
mais. Todavia, dá saudade sim, de ver o povo nas ruas pedindo Diretas Já,
mobilizado, “sem ódio e sem medo”, numa consciência política pouco vista hoje.
Agora, o noticiário é de escândalos, de desvio de dinheiro público de violência
e de outras mazelas que nos fazem menor. Além de uma juventude sem rumo. Essa
mesma que um dia assumirá o comando do país.
Que voltemos a ter um confronto
nítido de ideias, projetos claros para o país. Que retornemos ao Nacionalismo
que tanto acalentou gerações, para que não tenhamos saudade do que passou.
*Douglas Menezes é da Academia Cabense de Letras