José
Ambrósio
Simplicidade,
sinceridade, serenidade, afetividade, tolerância. Foi exercitando diariamente
essas cinco qualidades que ele conquistou gerações de adeptos, no seu caso
fregueses. Daqueles fregueses que quando viajam ficam marcando o dia da volta
para dar uma chegadinha naquele lugar especial, um simples boteco à moda antiga
que o pouco dinheiro que rendia não permitia ao proprietário apetrechá-lo com
objetos que se costuma ver em bares e que de certa forma cativam muita gente.
Nada disso.
Aliás, longe disso. Um velho balcão, mesas e cadeiras somente vistas em velhos
barracões de engenhos. Uma pia que estava sempre a exigir mais cuidados, panos de
mão que muitos dispensavam. Nada que um rápido esfregar de mãos não resolvesse e
logo se estava pronto para a cervejinha gelada ou a caninha esperta para avivar
ainda mais a vontade de saborear a buchadinha, o guisadinho.
Comidas cujo
preparo os clientes podiam acompanhar através da porta da cozinha sempre aberta,
de modo que o aroma invadia o pequeno salão. Quem sabe mais uma esperteza para
que ninguém saísse sem provar dos deliciosos pratos elaborados por dona Da, sua
dedicada esposa.
Nem mesmo a
receptividade discreta e muitas vezes sisuda quebrava o encanto, até para
clientes de primeira viagem. E eles sempre surgiam levados por poetas, boêmios,
seresteiros (nem sei se se pode distingui-los), operários, estudantes, jornalistas,
políticos. Muitos tinham cadeiras e horários certos. Alguns há certo tempo não
mais podiam ser encontrados, pois, como se costuma dizer em mesa de bar,
partiram para o andar de cima, frase dita sempre com gestos de respeito.
Quem nunca se
encontrou com Murilo Lages, Laércio Monteiro, Antonino Júnior, Ronildo
Albertin, Jessé Santos, Wilson Nascimento, Douglas Menezes, Elias Gomes,
Natanael Júnior, entre tantos outros, nas idas àquele bar na parte velha e alta
da cidade? E quem nunca se envolveu nas acaloradas discussões políticas que em
algumas ocasiões tiveram a participação de interlocutores como Jarbas
Vasconcelos, Cristina Tavares e Marcus Cunha, e que invariavelmente contavam
com a participação serena e sábia de um atento observador de quase três quartos
de século da cena política do Cabo de Santo Agostinho?
O nome do bar?
Nem sei se tem nome, mas todos o conhecem como o Bar de seu Toinho. Seu Toinho
partiu para o andar superior esta semana. Certamente foi recebido por muitos
que abraçou em seu bar comemorando, confortando, orientando
e até puxando orelhas, sempre com o aconchego de quem aprendeu a viver
modestamente, mas com sabedoria e muita dignidade.
Cabo de Santo
Agostinho, noite de 15 de maio de 2012