Pr.
Adriel Henrique
Infelizmente,
para muitas pessoas Deus só é concebido como pai. Lamentavelmente, muitos não
conseguem aceitar o fato de que Deus não pode ser classificado como feminino
(mulher) e muito menos como masculino (homem). Deus é espírito apenas, e não é
nada mais que isto ou além disto. Querer acreditar e difundir uma concepção
errada sobre Deus é um pecado “mortal”. Calma, pois Deus não é como o homem que
não perdoa, Ele sempre perdoa todos os pecadores. Eu poderia dizer que: Deus
perdoa como aquela mãe que perdoa o filho ou a filha que transgrediu sem
condicionar nada. Já os pais geralmente expulsam de casa ou do convívio estes
mesmos filhos, principalmente se estes forem mulheres.
Na época de
Jesus, era inconcebível a idéia de um pai perdoador. Principalmente um pai que
fica esperando que seu filho transgressor volte para casa, e muito menos que
quando o avista de longe sai correndo ao seu encontro. Para os judeus, este pai
perdeu o juízo. Já o filho transgressor, caso se arrependesse, não esperava que
o seu pai o recebesse de volta e muito menos que o considerasse como seu filho.
A parábola do Filho Pródigo exemplifica muito bem esta concepção.
Quando, na
parábola citada, Jesus usa a figura do pai para falar sobre o perdão, não é uma
questão de preferência em relação à figura feminina da mãe, e sim por Ele querer
demonstrar o tipo de atitude que Deus tem para com os seus filhos. O curioso
nesta parábola é que a atitude deste pai representa a maneira que uma mãe
naturalmente reagiria em tal situação. Nas entrelinhas, Jesus disse para os
seus conterrâneos que eles deveriam ter uma atitude materna e não paterna, ou
seja, uma atitude feminina e não masculina. Quando uma mãe age como o pai da
parábola agiu, os pais geralmente dizem: “Mãe é bicho besta”. Pois é: Deus agiu
e age como uma mãe agiria.
Precisamos
aceitar o fato de que o ser humano foi formado à imagem e semelhança de Deus.
Penso que seja no mínimo intrigante como as mães (as mulheres) demonstram com
maior facilidade reflexos de Deus como perdão, amor incondicional, acolhimento,
tolerância, cuidado, preocupação e esperança. Eu nunca ouvi dizer, por exemplo,
que “no coração de pai sempre cabe mais um”; ou que “pai quer todos os seus
filhos debaixo das suas asas”. E você, já ouviu?
Tem pessoas que
diante de algumas situações afirmam que “Deus é pai”. Vale pontuar que essa
afirmação é só da boca para fora. Além disso, a maneira como é utilizada
distorce a imagem de Deus. Fico encantado quando vemos na Bíblia a apresentação
da face materna de Deus. O bom é ouvir Jesus dizer: “Quantas vezes quis ajuntar
os teus filhos, como a galinha junta os seus pintos debaixo das asas, e não
quiseste?” (Lc 13.34).
Penso que pelo
fato de a mulher representar a imagem e semelhança de Deus, posso entender e
compreender melhor a ação de Deus em suas vidas, principalmente se estas forem
mães. Já que aceitamos o fato de que a mulher possui a imagem e semelhança de Deus,
podemos crer também que Deus possui uma face materna. Aleluia! Acho que só uma
compreensão materna para entender a dor, o sofrimento, o desespero de uma mãe.
Lembro-me da minha amiga em sala de aula no seminário que conseguiu sentir a
dor da mãe dos filhos de Jó, esta que muitos condenam a atitude que ela teve em
meio a uma grande tragédia. Eu nunca vi um pregador defendendo esta mãe. E
você, já viu?
A face materna
de Deus nos faz perceber a dimensão da grandeza de Deus. Pois esta face o fez
ir ao encontro de mães aflitas e necessitadas como Hagar, mãe de Ismael, e
Joquebede, mãe de Moisés. Em outros momentos, esta face concedeu a realização
do sonho da maternidade a Ana, mãe de Samuel, Sarah, mãe de Isaque, à mulher de
Suném (2 Rs 4.8-37), à mãe de Sansão, a Isabel, mãe do profeta João Batista, entre
outras. Como diz o salmista no salmo 113, é Deus que faz com que a mulher
estéril habite em família e seja uma alegre mãe de filhos.
Não sei se você
considera ou passou a considerar Deus como mãe. Mesmo assim, em um texto
futuro, compartilharei as respostas de outras amigas e amigos. Todavia retorno
para você a pergunta da minha amiga Sílvia: “A mãe que eu sou testemunha a
mãe/pai que Deus é? O pai que eu sou testemunha o pai/mãe que Deus é?”. Espero
que sim. Neste final, deixo para vocês a saudação que geralmente Sílvia me faz:
“Que o Deus pai/mãe esteja com vocês.” Amém?